A Foto Polemica - XVII Bienal de Arte Fotográfica Brasileira em Cores -

O melhor da Arte é a polemica.... é quando testa o equilíbrio ... quando tenciona ... quando sugere...

 
Caros,

O texto abaixo, extraí do email de Karin Magnavita, formada em Belas Artes e Mestranda na área. É uma amiga que não a vejo há 24 anos e que escreveu acerca da minha foto que obteve o 1º Lugar na XVIII Bienal de Arte Fotográfica Brasileira em Cores. Foram mais de 2500 fotos avaliadas de cerca de 700 fotógrafos participantes.  Sem dúvidas, trata-se de uma imagem polêmica e que causa algum desconforto, diria uma tensão que briga com uma tranqüilidade. Vamos ao texto de Karin, abre aspas:

Fiquei um tempão admirando sua fotografia premiada e entendo perfeitamente porque a curadoria a escolheu, mas antes preciso contar um pouco do meu encontro com a arte contemporânea...

.... pra entender arte contemporânea, a primeira barreira a ser rompida foi com a questão do belo. Afinal, o que é belo? Qual sua relação com a arte? A primeira coisa que compreendi é que o belo não segue mais cânones como no passado, onde a figura humana deveria ser anatomicamente perfeita, a perspectiva matemática em equilíbrio e por aí vai, cada estilo seguindo regras de sua época. E eu acho que tais regras tiveram fundamento em determinadas épocas, porque a arte sempre reflete a vida e na vida sempre há tendências, modismos, crenças, e um monte de etcs...

Depois que estudei sobre a história da fotografia e as transformações ocorridas na arte a partir de então, ficou claro pra mim que houve uma ruptura importante e que a arte não poderia jamais ser como antes. Por isso, meu caro, quando olho pra sua fotografia, vejo verdade... e muita, muita sensibilidade.

Aquele quintal me provocou várias sensações. Um pouco de tristeza diante daquela pobreza e da miséria que existe no mundo... mas eis que surge um testemunho, uma marca, um sinal, um rastro de humanidade. Aquela boneca sugere inocência, pureza e amor. Porque me lembra a infância, onde tudo é doce e a vida está apenas começando. Alguém a lavou, portanto há cuidado, há carinho... Pergunto-me se ela é de alguma criança. Ou é de uma mulher adulta, que guarda um pouco de sua pureza na boneca que lembra a sua infância, quando tudo era menos difícil. Mas a boneca de ponta a cabeça me lembrou um arcano do tarô, "o enforcado", que pela simbologia significa sacrifício, entre outras coisas que, por analogia, se assemelham muito à dureza que muitos brasileiros vivem. Talvez aqueles brasileiros cujo quintal foi capturado por suas lentes.

Aquele cachorro sugere que há tanto afeto naquela casa... e amizade. Sabe que na época do Renascimento, em pinturas que retratam cenas de intimidade doméstica quase sempre há um cãozinho deitado? Aquele momento de descanso no fresquinho do chão de terra batida é de dar inveja, inveja pelo prazer das coisas simples que esquecemos nessa corrida louca e capitalista que é a vida.

Pra finalizar, caríssimo, só me resta dizer que se sua fotografia me trouxe tantas reflexões e emoções, imagine pra curadoria, que deve ser composta por pessoas com conhecimento de causa.

Karin Magnavita
               Mestranda em Belas Artes 

15 comentários:

  1. Ver o trabalho de alguém muito querido ser premiado numa mostra dessa grandiosidade é extremamente prazeroso. Mas ver que minhas palavras te tocaram de alguma forma é uma emoção indescritível... Só tenho a agradecer por nos presentear com sua sensibilidade e por compartilhar conosco seu olhar especial. O mundo mediado pelo seu olhar é mais do que um convite, é uma imersão na vida. Um grande beijo, Karin.

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  2. Cheguei aqui por indicação da Karin e ressaltando a minha paixão por fotografia. Que preciosidade essa imagem! Me lembra muito a poesia de Manoel de Barros, que enriquece o ordinário de beleza e bem-aventurança. 'É preciso transver o mundo.' E esse quintal é um livre espelho dele. Parabéns, Ricardo. Sucesso!

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  3. Caro Ricardo, foi Karin que comentou comigo sobre esta fotografia: que causava um certo desconforto no espectador logo no início, mas que depois era então apreciada. Logo que ví a sua fotografia, acho que pude entender o porquê do desconforto inicial: Quando visualizamos uma imagem o nosso foco começa da esquerda para a direita. Neste caso, vemos logo de cara, uma boneca pendurada em um solitário varal, de ponta cabeça, juntamente com a imagem de um chão batido e sem vida...o que nos dá uma sensação de morte e solidão. Depois deste momento inicial, nos deparamos então com o verde, a vida e a esperança!! O cachorrinho tira um cochilo tranquilo e nos dá uma sensação de paz e aconchego. Se dividirmos a imagem na diagonal, são dois universos completamente diversos...
    Fiz os comentários no plural no intuito de desvendar as sensações do espectador em geral, mas obviamente nem todos pensarão da mesma forma!
    Meus parabéns e uma longa jornada fotográfica livre e desafiadora!! Abçs!!

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  4. Posso considerar que a imagem é um manifesto, um convite ou uma determinação da vida que finda a "qualquer momento" ou "em qualquer momento"... Ela conseguiu passar o movimento que antecede a queda e a dor do "depois", seja queda, morte, rasteira, surpresa ou brincadeira. O anonimato que nos colocamos quando dormimos ou morremos e a leve presença de quem nos observa, tão verde, tão mato. Achei a captura da realidade substancial e intransitiva. Parabéns!!!. Do amigo Geison.

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  5. Já disse e vou repetir: meu maior prazer é testemunhar a brincadeira se revelando (ooops... rs) coisa séria... maravilhoso compartilhar deste momento, Sena! Parabéns!!!!

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  6. Ola Ricardo! Como te disse no almoço,já havia entrado em seu blog, por acaso! Foi um prazer conhecer vc e saber um pouco mais sobre as sensaçōes provocadas no click e telespectadores da fotografia campeã! Abs da sua mais nova seguidora... Parabens! Teca.

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  7. Ricardo, parabéns por uma comnposição que fez o espectador, o amante das artes, o leigo e o mais sujeito de todos, o seu olhar, ver a cena e deixar que ela transborde para a inquietação no meio. Sem necessitar explicar nada, mas causar aos receptores, um sentimento, seja lá qual for, um sentimento. Isso é Arte!

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  8. Obrigado a Karin e a todo que passaram por aqui, Chioda, Cecilia, Geison, Teca, Wilson, Ade...

    Cecilia, nao tinha percebido essa dualidade na foto. Acredito que ela equilibra a tensão. Gostei muito.

    Ade, na reunião da Confraria Fotográfica para a escolha das fotografias para a Bienal, foi você quem a batizou como "Interferência no Quintal". Portanto como um bom padrinho, você também faz parte desse premio!

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  9. Parabéns!!! Você é a fotografia!!

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  10. As fotos. As fotos que deram início ao nosso encontro. Tudo começou com o rastro das estrelas. Lembro-me bem daquele registro que me deixou encantada. Depois veio a Cachoeira da Fumaça, nossa madrinha. Foto que vi em Salvador mais precisamente no nosso primeiro encontro no Solar do Unhão. A dedicatória selou nossa união. Após esse momento comecei a conhecer a alma do fotógrafo que se revelava a cada registro.
    Acompanhei sua paixão pela fotografia e seu aprimoramento na arte do “clicar” – uma verdadeira arte alquímica - que teve como ponto de partida a melhor companheira – a natureza. Posteriormente seu olhar foi incrementado pelas cenas cotidianas vividas por pessoas e animais chegando a cenários abstratos que vão delineando sua criatividade e amor pela profissão que já nasceu com ele.
    A simplicidade, marca registrada de suas fotos, é o verdadeiro colorido delas, trazendo a riqueza da subjetividade de um olhar particular.
    Ser fotógrafo para ele é ser cada vez mais Ricardo, é seguir seu caminho de individuação, é encontrar-se consigo mesmo alcançando a totalidade que dá sentido à vida humana.
    Sou muito feliz por estar ao seu lado há 6 anos e esse prêmio, com certeza, será o primeiro de muitos que virão. O mergulho no inconsciente nos traz verdadeiras riquezas.
    Parabéns, parabéns, parabéns!
    Beijos!

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  11. Meu velho e admirável amigo, escrever aqui é uma responsabilidade danada, hein! Primeiro li com muita atenção todos os manifestos de carinho e respeito a sua pessoa e logo fiquei emocionado. Sou seu fã, sou fã da sua arte e do seu trabalho. Você é um ser humano que todos querem por perto, faz bem.
    Lembrando que no home lá em casa tem arte sua. Estou querendo mais duas. hehe
    Meu querido, você está no meu coração. Abraço verdadeiro! Parabéns!
    MARCELO MOSCA

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  12. Leandro Ribeiro Barros14 de junho de 2011 às 15:44

    Desde o dia que soube estou divulgando para toda a família e amigos!

    Fiquei muito feliz em ver que ao longo de tanta dedicação e suavidade seu trabalho está sendo reconhecido por mais pessoas. Tenho muito orgulho de sermos irmãos por batismo e ver que a sua leveza da vida foi uma grande herança dele.

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. É uma honra conhece-lo Ricardo, e admiro muito o seu trabalho, sempre sensível e verdadeiro. O texto acima diz tudo o que podemos capturar desta sena que só um olhar tão sensível poderia ver. Parabéns Ricardo! um abraço. Milena.

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  15. PARABÉNS!!!
    Como sabe, mãe de Alexandre Casali, avó de Biancorinho e sua fã incondicional!

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Obrigado pelo comentário! Luz para você!