O melhor da Arte é a polemica.... é quando
testa o equilíbrio ... quando tenciona ... quando sugere...
O texto abaixo, extraí do email de Karin Magnavita, formada em Belas
Artes e Mestranda na área. É uma amiga que não a vejo há 24 anos e que escreveu
acerca da minha foto que obteve o 1º Lugar na XVIII Bienal de Arte Fotográfica
Brasileira em Cores. Foram mais de 2500 fotos avaliadas de cerca de 700
fotógrafos participantes. Sem
dúvidas, trata-se de uma imagem polêmica e que causa algum desconforto, diria
uma tensão que briga com uma tranqüilidade. Vamos ao texto de Karin, abre
aspas:
“Fiquei um tempão admirando sua
fotografia premiada e entendo perfeitamente porque a curadoria a escolheu, mas
antes preciso contar um pouco do meu encontro com a arte contemporânea...
.... pra entender
arte contemporânea, a primeira barreira a ser rompida foi com a questão do
belo. Afinal, o que é belo? Qual sua relação com a arte? A primeira coisa
que compreendi é que o belo não segue mais cânones como no passado, onde a
figura humana deveria ser anatomicamente perfeita, a perspectiva matemática em
equilíbrio e por aí vai, cada estilo seguindo regras de sua época. E eu acho
que tais regras tiveram fundamento em determinadas épocas, porque a arte sempre
reflete a vida e na vida sempre há tendências, modismos, crenças, e um monte de
etcs...
Depois que estudei sobre a
história da fotografia e as transformações ocorridas na arte a partir de então,
ficou claro pra mim que houve uma ruptura importante e que a arte não poderia
jamais ser como antes. Por isso, meu caro, quando olho pra sua fotografia, vejo
verdade... e muita, muita sensibilidade.
Aquele quintal me provocou várias
sensações. Um pouco de tristeza diante daquela pobreza e da miséria que existe
no mundo... mas eis que surge um testemunho, uma marca, um sinal, um
rastro de humanidade. Aquela boneca sugere inocência, pureza e amor.
Porque me lembra a infância, onde tudo é doce e a vida está apenas começando.
Alguém a lavou, portanto há cuidado, há carinho... Pergunto-me se ela é de
alguma criança. Ou é de uma mulher adulta, que guarda um pouco de sua pureza na
boneca que lembra a sua infância, quando tudo era menos difícil. Mas a boneca
de ponta a cabeça me lembrou um arcano do tarô, "o enforcado", que
pela simbologia significa sacrifício, entre outras coisas que, por analogia, se
assemelham muito à dureza que muitos brasileiros vivem. Talvez aqueles
brasileiros cujo quintal foi capturado por suas lentes.
Aquele cachorro sugere que há
tanto afeto naquela casa... e amizade. Sabe que na época do Renascimento,
em pinturas que retratam cenas de intimidade doméstica quase sempre há um
cãozinho deitado? Aquele momento de descanso no fresquinho do chão de
terra batida é de dar inveja, inveja pelo prazer das coisas simples que
esquecemos nessa corrida louca e capitalista que é a vida.
Pra finalizar, caríssimo, só me resta
dizer que se sua fotografia me trouxe tantas reflexões e emoções, imagine pra
curadoria, que deve ser composta por pessoas com conhecimento de causa.”
Karin Magnavita
Mestranda em Belas Artes
Ver o trabalho de alguém muito querido ser premiado numa mostra dessa grandiosidade é extremamente prazeroso. Mas ver que minhas palavras te tocaram de alguma forma é uma emoção indescritível... Só tenho a agradecer por nos presentear com sua sensibilidade e por compartilhar conosco seu olhar especial. O mundo mediado pelo seu olhar é mais do que um convite, é uma imersão na vida. Um grande beijo, Karin.
ResponderExcluirCheguei aqui por indicação da Karin e ressaltando a minha paixão por fotografia. Que preciosidade essa imagem! Me lembra muito a poesia de Manoel de Barros, que enriquece o ordinário de beleza e bem-aventurança. 'É preciso transver o mundo.' E esse quintal é um livre espelho dele. Parabéns, Ricardo. Sucesso!
ResponderExcluirCaro Ricardo, foi Karin que comentou comigo sobre esta fotografia: que causava um certo desconforto no espectador logo no início, mas que depois era então apreciada. Logo que ví a sua fotografia, acho que pude entender o porquê do desconforto inicial: Quando visualizamos uma imagem o nosso foco começa da esquerda para a direita. Neste caso, vemos logo de cara, uma boneca pendurada em um solitário varal, de ponta cabeça, juntamente com a imagem de um chão batido e sem vida...o que nos dá uma sensação de morte e solidão. Depois deste momento inicial, nos deparamos então com o verde, a vida e a esperança!! O cachorrinho tira um cochilo tranquilo e nos dá uma sensação de paz e aconchego. Se dividirmos a imagem na diagonal, são dois universos completamente diversos...
ResponderExcluirFiz os comentários no plural no intuito de desvendar as sensações do espectador em geral, mas obviamente nem todos pensarão da mesma forma!
Meus parabéns e uma longa jornada fotográfica livre e desafiadora!! Abçs!!
Posso considerar que a imagem é um manifesto, um convite ou uma determinação da vida que finda a "qualquer momento" ou "em qualquer momento"... Ela conseguiu passar o movimento que antecede a queda e a dor do "depois", seja queda, morte, rasteira, surpresa ou brincadeira. O anonimato que nos colocamos quando dormimos ou morremos e a leve presença de quem nos observa, tão verde, tão mato. Achei a captura da realidade substancial e intransitiva. Parabéns!!!. Do amigo Geison.
ResponderExcluirJá disse e vou repetir: meu maior prazer é testemunhar a brincadeira se revelando (ooops... rs) coisa séria... maravilhoso compartilhar deste momento, Sena! Parabéns!!!!
ResponderExcluirOla Ricardo! Como te disse no almoço,já havia entrado em seu blog, por acaso! Foi um prazer conhecer vc e saber um pouco mais sobre as sensaçōes provocadas no click e telespectadores da fotografia campeã! Abs da sua mais nova seguidora... Parabens! Teca.
ResponderExcluirRicardo, parabéns por uma comnposição que fez o espectador, o amante das artes, o leigo e o mais sujeito de todos, o seu olhar, ver a cena e deixar que ela transborde para a inquietação no meio. Sem necessitar explicar nada, mas causar aos receptores, um sentimento, seja lá qual for, um sentimento. Isso é Arte!
ResponderExcluirObrigado a Karin e a todo que passaram por aqui, Chioda, Cecilia, Geison, Teca, Wilson, Ade...
ResponderExcluirCecilia, nao tinha percebido essa dualidade na foto. Acredito que ela equilibra a tensão. Gostei muito.
Ade, na reunião da Confraria Fotográfica para a escolha das fotografias para a Bienal, foi você quem a batizou como "Interferência no Quintal". Portanto como um bom padrinho, você também faz parte desse premio!
Parabéns!!! Você é a fotografia!!
ResponderExcluirAs fotos. As fotos que deram início ao nosso encontro. Tudo começou com o rastro das estrelas. Lembro-me bem daquele registro que me deixou encantada. Depois veio a Cachoeira da Fumaça, nossa madrinha. Foto que vi em Salvador mais precisamente no nosso primeiro encontro no Solar do Unhão. A dedicatória selou nossa união. Após esse momento comecei a conhecer a alma do fotógrafo que se revelava a cada registro.
ResponderExcluirAcompanhei sua paixão pela fotografia e seu aprimoramento na arte do “clicar” – uma verdadeira arte alquímica - que teve como ponto de partida a melhor companheira – a natureza. Posteriormente seu olhar foi incrementado pelas cenas cotidianas vividas por pessoas e animais chegando a cenários abstratos que vão delineando sua criatividade e amor pela profissão que já nasceu com ele.
A simplicidade, marca registrada de suas fotos, é o verdadeiro colorido delas, trazendo a riqueza da subjetividade de um olhar particular.
Ser fotógrafo para ele é ser cada vez mais Ricardo, é seguir seu caminho de individuação, é encontrar-se consigo mesmo alcançando a totalidade que dá sentido à vida humana.
Sou muito feliz por estar ao seu lado há 6 anos e esse prêmio, com certeza, será o primeiro de muitos que virão. O mergulho no inconsciente nos traz verdadeiras riquezas.
Parabéns, parabéns, parabéns!
Beijos!
Meu velho e admirável amigo, escrever aqui é uma responsabilidade danada, hein! Primeiro li com muita atenção todos os manifestos de carinho e respeito a sua pessoa e logo fiquei emocionado. Sou seu fã, sou fã da sua arte e do seu trabalho. Você é um ser humano que todos querem por perto, faz bem.
ResponderExcluirLembrando que no home lá em casa tem arte sua. Estou querendo mais duas. hehe
Meu querido, você está no meu coração. Abraço verdadeiro! Parabéns!
MARCELO MOSCA
Desde o dia que soube estou divulgando para toda a família e amigos!
ResponderExcluirFiquei muito feliz em ver que ao longo de tanta dedicação e suavidade seu trabalho está sendo reconhecido por mais pessoas. Tenho muito orgulho de sermos irmãos por batismo e ver que a sua leveza da vida foi uma grande herança dele.
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ResponderExcluirÉ uma honra conhece-lo Ricardo, e admiro muito o seu trabalho, sempre sensível e verdadeiro. O texto acima diz tudo o que podemos capturar desta sena que só um olhar tão sensível poderia ver. Parabéns Ricardo! um abraço. Milena.
ResponderExcluirPARABÉNS!!!
ResponderExcluirComo sabe, mãe de Alexandre Casali, avó de Biancorinho e sua fã incondicional!